O leite de vaca faz parte da “cultura popular” criada ao redor da alimentação dos peludos que se perpetua até hoje. Porém o fato de GOSTAREM de leite, NÃO SIGNIFICA que o consumo é adequado para os pets.
Apesar de não ser considerado tóxico para cães e gatos, existem 3 pontos pelos quais não recomendo o consumo do LEITE LÍQUIDO para os meus pacientes e peludos em geral:
1. O leite possui grande quantidade de LACTOSE, que é o carboidrato de sua composição. Levando em conta os hábitos alimentares de cães e gatos (carnívoros oportunistas e carnívoros estritos, respectivamente), não é nada interessante aumentar os carboidratos em sua alimentação, certo?
Além desse fator, a produção da enzima lactase – que quebra a lactose em glicose e galactose no organismo – é produzida em POUCA quantidade nestas espécies. Claro que há variações de um organismo para outro e também com relação à quantidade e frequência ingerida, mas infelizmente a maioria esmagadora dos peludos apresenta desconforto abdominal leve, como gases, a mais sérios como vômitos, diarreia ou enterite (inflamação de alças intestinais) de forma aguda ou crônica.
2. A parte proteica do leite de vaca é representada pela CASEÍNA A1, que é pró inflamatória para o organismo dos peludos (e para nós). Isso quer dizer que o organismo vai inflamar na hora? NÃO. A inflamação também depende da dose e da frequência, além de ser maior para os peludos com doenças autoimunes.
3. O último ponto é que o leite de caixinha que encontramos no mercado para comprar é um produto repleto de conservantes e estabilizantes artificiais, com aditivos químicos inflamatórios que fazem um produto biológico durar meses fora da geladeira em uma prateleira. Então isso que conhecemos por “leite” no supermercado, NÃO é leite, mas sim uma mistura química COM LEITE.
*** LEMBRANDO: estes pontos que dividi com você se referem ao LEITE LÍQUIDO. Existem derivados do leite, como iogurtes naturais integrais sem açúcar, manteiga (fonte de gordura do bem, ao contrário da margarina) e alguns queijos que podem ser incorporados na rotina alimentar em casos individuais e com quantidades específicas.
O mais importante sobre um produto industrializado é saber que a frente da embalagem ou “capa” é apenas um rótulo COMERCIAL, criado para fazer você comprar o produto, nada mais.
O que realmente vai te dizer se o produto é bom ou não e te mostrar o que realmente tem dentro dele é a parte de trás da embalagem, onde você encontrará:
1- Lista de ingredientes
É sem dúvidas a parte mais importante de um rótulo para saber sobre a qualidade do produto. Nesta lista os ingredientes sempre aparecerão na ordem de MAIOR QUANTIDADE PARA MENOR QUANTIDADE dentro do produto em questão.
Por exemplo:
“Carne bovina, ovo desidratado, vegetais desidratados (cenoura e salsão), cloreto de sódio (sal) e antioxidante natural (vitamina E).”
Nesta lista o ingrediente presente em maior quantidade no produto é a carne bovina, seguida do ovo desidratado, vegetais desidratados, sal e em menor quantidade a vitamina E como antioxidante natural.
Lembre-se que nossos amigos são carnívoros estritos (gatos) e carnívoros oportunistas (cães), então em uma ração ou petisco de qualidade o PRIMEIRO ingrediente deve ser uma “proteína” e, preferencialmente, não deve ser um “produto de proteína”.
Veja a diferença:
PROTEÍNA – carne de frango, fígado, peixe
PRODUTO DE PROTEÍNA – farinha de frango, farinha de vísceras, farinha de peixe
Tendo isso em mente, não é NADA INTERESSANTE aumentar o consumo de carboidrato do bichinho com “biscoitos ou cookies de pets”, que são compostos por puro carboidrato e saborizados artificialmente com aroma de carne ou vegetais, ok? Pode checar: o primeiro ingrediente desses tipos de petiscos industrializados é, na maior parte, farinha de trigo =/
Outro ponto importante a se analisar na qualidade da ração ou petisco é a presença de ingredientes inflamatórios e artificias. FUJA DELES:
Conservantes artificias como BHT e BHA (comprovadamente inflamatórios e cancerígenos, já proibidos em diversos países e usados livremente no Brasil). Triste fato;
O “trio inflamação e alergia”: GLÚTEN (presente no trigo, cevada e centeio), SOJA e MILHO. Farei um post somente sobre eles posteriormente.
AÇÚCAR e seu diversos nomes como dextrina, maltodextrina, frutose, sacarose, glicose, glucose, açúcar de coco, açúcar demerara, açúcar mascavo, açúcar orgânico, lactose, açúcar invertido, dextrose, xarope de milho, agave, etc;
Outros aditivos artificias muito comuns com potencial inflamatório e alergênico: PALATABILIZANTES / FLAVORIZANTES (servem para dar gosto ao alimento) e CORANTES;
2- Níveis de garantia
Os níveis de garantia indicam em porcentagem a proporção dos “grupos” de ingredientes do produto e é muito útil para descobrir as rações que adoram “pesar a mão” no carboidrato dos peludos.
Aqui há uma pegadinha, pois a indústria não é obrigada a discriminar a proporção de carboidrato no rótulo. MAS é super fácil de descobrir através de uma conta simples que você pode fazer com o seu celular na hora de comparar os rótulos.
Vou te ensinar:
O total de 100% do produto é composto por proteínas, carboidratos, gorduras (chamadas de extrato etéreo), minerais (chamados de matéria mineral), fibras (chamadas de matéria fibrosa) e umidade. Todos são descritos no rótulo, exceto o carboidrato, então precisamos subtrair de 100% os valores de cada grupo para chegar no valor não divulgado do carboidrato. Veja o exemplo que preparei abaixo para você.
Os níveis de garantia podem aparecer em tabela (como neste exemplo) ou em texto corrido, sempre com o “nome do grupo” e a porcentagem em seguida.
Fazendo a conta utilizando os valores da ração acima, temos:
Os felinos são CARNÍVOROS ESTRITOS, não toleram e não digerem bem carboidratos, porque essa é simplesmente a fisiologia deles. Esta ração tem MAIS CARBOIDRATOS DO QUE PROTEÍNAS. Na natureza um felino consumiria por volta de 5% de carboidratos, principalmente vindos de fibras e vegetais parcialmente digeridos dentro de sua presa . Trabalhos de revisões bibliográficas (que reúnem as informações disponíveis sobre um assunto) mostram que os hábitos alimentares são estudados há décadas, e revisões como esta, esta e esta apontam inclusive um consumo menor de carboidrato (2%) em uma alimentação de felinos livres.
Infelizmente hoje (Outubro de 2018) as rações para felinos com menos carboidrato giram em torno de 16-18%. Então, se COMIDA DE VERDADE não for uma opção na sua casa, faça a conta que ensinei para que você possa escolher a opção com menor carboidrato possível. Espero de coração que este cenário mude e que a indústria se adapte a favor da saúde.
Para os cães, como são carnívoros oportunistas e adaptados a uma maior quantidade de carboidratos do que os felinos, uma porcentagem por volta de 30% de carboidrato para cães saudáveis é aceitável (certas alterações clínicas e laboratoriais exigem distribuições específicas diferentes de macronutrientes).
3- Tabela nutricional
A tabela nutricional, por incrível que pareça, é a parte menos importante do rótulo para avaliar qualidade do produto. Nela você encontrará apenas a distribuição calórica dele e nem sempre poucas calorias é um sinônimo de boa qualidade.
Se um produto tiver poucas calorias e for composto principalmente de carboidratos, com corantes e sabor artificial de carne, ele é um produto bom para o seu amigo peludo?
Se você chegou até aqui você tem ferramentas para saber que um produto assim é muito ruim para a saúde dele.
4- Informações adicionais
Você também pode encontrar algumas informações adicionais no rótulo como: isenção de registro, selos de qualidade, certificação orgânica, etc.
São informações técnicas que muitas vezes apoiam, garantem ou justificam informações já fornecidas no rótulo.
Espero que este guia tenha desmistificado a dificuldade de leitura dos rótulos e te ajude a fazer melhores escolhas para seu amigo de quatro patas!